Colcha de Retalhos
(How to Make an American Quilt)
Dir: Jocelyn Moorhouse
USA - 1995
Este foi o filme indicado para complementar o trabalho do Capítulo 13 do Livro Mulheres que Correm com os Lobos: O Clã das Cicatrizes. Por isso trago novamente esta postagem.
Vamos viver a história de Finn (Winona Ryder), uma jovem que precisa terminar sua tese de mestrado, mas está com um certo bloqueio para escrever. Ela também recebeu uma proposta de casamento e está noiva, mas está em dúvida se deve se casar ou não.
Ela se pergunta: Como viver essa coisa chamada casal e ter espaço para si mesma?
No meio desse turbilhão ela decide ir para o interior, passar o verão na casa da avó e da tia, onde acredita que terá paz para escrever e pensar…
Só que lá ela conhece Leon, um jovem muito sedutor, que a deixa ainda mais dividida!
Encontra o grupo de amigas de sua avó, que se reúne regularmente para fazer quilt (a mão!). Cada trabalho deve ter um tema, contar uma história.
Elas ficam sabendo que Finn está noiva e decidem que seu próximo projeto será uma colcha, como presente de casamento. O tema será: Onde vive o Amor?
A medida que ela convive com essas mulheres fortes e especiais, algo dentro dela se transforma…ela passa a ouvir seus instintos e a ter coragem para manter suas escolhas.
Ao mesmo tempo, ao recontar suas histórias através da colcha, as mulheres passam a encarar suas vidas de forma diferente.
Talvez muitas já tenham assistido, mas este é aquele tipo de filme que a cada vez que vemos nos emocionamos e temos um novo insight.
Um dos filmes mais lindos que já vi. Inesquecível…
Um Olhar Psicológico
Para Quem Deseja Aprofundar a Experiência:
sugiro que assista ao filme primeiro,
e depois use estes tópicos para reflexão
Fazer um post como este envolve muita pesquisa e trabalho, ficarei feliz se me der um retorno dizendo se este olhar psicológico a ajudou a ter uma experiência mais profunda das mensagens do filme.
Finn, uma mulher jovem e voltada para o mundo das idéias, para o mundo racional, está com dificuldades para dar continuidade ao seu trabalho, busca uma perfeição inatingível, e quando vê que não conseguirá alcançá-la, troca o tema da tese.
Trocou de tema três vezes, e agora irá falar sobre trabalhos manuais realizados por mulheres de diversas culturas. Não é por acaso que decidiu ir para a casa da avó, pois cresceu vendo aquelas mulheres fazendo quilt (uma tradição americana).
Ao voltar para a casa onde passou grande parte da sua infância, busca se reconectar com os sentimentos e suas raízes.
Existe também a questão das escolhas: para escolher bem, é necessário saber perder. Pois escolher algo, é abrir mão das outras alternativas, que poderiam ser boas também…
Cada uma das mulheres do filme tem uma história de amor peculiar, todas as formas de amor aparecem: o amor dos amantes, de mãe e filha, de irmãs, por um animal de estimação, por uma atividade… cada uma delas representada por um dos quadrados da colcha.
Mas também há mágoas e assuntos não resolvidos entre elas. E o filme mostra como o perdão pode ser libertador e ressignificar toda uma vida que parecia desperdiçada. E na maioria dos casos, não se trata apenas de perdoar o outro, mas a si mesma.
Ao perdoarmos, uma grande quantidade de energia (que era usada para manter a mágoa) é liberada, podendo ter outros usos criativos. O filme representa esta transformação de forma muito poética, através da força do vento, que mudou tudo de lugar.
Inclusive, espalhou as folhas da tese para todo lado, o que foi um grande teste para Finn: desistir de novo ou lutar para recuperá-la? A avó tem um papel importante neste momento quando questiona a neta sobre “seu desapego”.
Quando ela escolhe lutar pela tese que já tinha escrito, percebemos que realmente amadureceu, e somente agora poderia encarar uma relação duradoura, que exige muitas reconstruções ao longo da vida.
Muito interessante também o diálogo entre Finn e Constance sobre o que acham mais difícil em ser mulher, como isso muda de acordo com a idade e o momento de vida de cada uma.
Outro detalhe poético é que somente quando a colcha está pronta, ou seja, quando ela recebe a prova concreta do amor daquelas mulheres (que ficaram 72 horas trabalhando sem parar para terminá-la), ela pode ir ao encontro de Sam. E ela o encontra enrolada na colcha, ou seja, ela interiorizou todas aquelas experiências de vida que lhe foram transmitidas por elas e todas as diferentes formas do amor.
Preste atenção ao papel do corvo, que é fundamental. Uma bela metáfora para a ligação com os sentimentos e com os instintos. O pássaro conduz a mulher para o amor da sua vida, mostrando que quando ela deixa a racionalidade um pouco de lado e ouve seu coração, terá mais segurança de suas escolhas e coragem para mantê-las.
São sete mulheres trabalhando na colcha que será ofertada para a oitava mulher (Finn). O número sete tem um significado especial: um ciclo que se completa (uma semana), um trabalho realizado (sete dias da criação). O número oito aponta para a transcendência: do ordinário para o extraordinário, do cotidiano para o sagrado.
E todas as mulheres, ao final do filme, transcenderam seu estado de consciência inicial, ampliando a rede de significados de suas vidas.
Atente para a maravilhosa cena final: o mergulho de Sofia (cuja amargura a havia afastado de sua paixão: o salto ornamental). Uma bela metáfora para a força do perdão, que nos liberta do passado e nos liga ao amor e o momento presente.
O nome desta personagem, Sofia (Sabedoria em grego) não é por acaso, pois somente quando transformamos nossas aflições em sabedoria é que podemos "mergulhar” na vida, com toda sua beleza e intensidade.
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